A VIOLÊNCIA FAZ PARTE DE NOSSA GÊNESE
Embora tenhamos a impressão de que somos criaturas independentes, onde nossa vontade é soberana e nossas decisões partem de uma análise fria sobre os acontecimentos que ocorrem ao nosso redor, não é isso o que ocorre de fato. Mesmo que estejamos convencidos de que nós, e apenas nós, decidimos quais ações tomar frente a qualquer questão que se nos apresente, não é assim que as coisas realmente são…
Infelizmente para nós, como indivíduos, nada representamos no grande espetáculo da vida. Mesmo que não percebamos, estamos divididos em diversos times, batalhando uns contra os outros. Parece estranho falar assim? Sim, realmente parece. Mas é o que ocorre na prática…
Alguns grupos tentam se sobressair sobre os outros. Etiquetas são distribuídas parta identificar os vários grupos que formam a Sociedade. E esta é uma soma de todos os espectros que compõe a base, sendo que alguns são aceitos como superiores, mesmo que tal não seja dito ao mundo com palavras…
Quando eu digo que alguns grupos são aceitos como “superiores” em relação aos outros não estou querendo afirmar nada. Não estou falando que os grupos que não aqueles em questão aceitam essa nomenclatura. Porém, uma vez que tais associações usam da violência para fazer valer seu ponto de vista, até que alguém se rebele e reaja contra estes, permanecerão no topo da pirâmide social…
Sim, aqueles que se sentem no comando se acham no direito de estabelecer regras de comportamento para as outras castas sociais. Sim, foi isso mesmo que eu quis dizer… castas. E por um motivo simples… se você pertence a determinado grupo, dificilmente conseguirá trocar sua posição, até por uma questão de coerência aos seus princípios…
Um determinado grupo que se acha no direito de determinar regras para os outros acredita piamente ser o detentor da verdade suprema e, por tal motivo, exige que as outras associações sigam suas orientações. Porque estas são as únicas que podem manter a “ordem natural” das coisas… soou como absurdo? Realmente o é… menos para aqueles que se consideram os detentores da Verdade Universal…
A maneira como você vive sua vida em nada interfere na rotina daqueles que estão ao seu redor. Porém, por algum motivo até hoje não explicado, suas ações incomodam aqueles que tem ideias divergentes quanto à maneira de se levar a vida. Como eu disse, suas ações não afetam em nada no dia a dia do outro. Mas para que esse se sinta confortável, necessita que haja uniformidade nas ações dos grupos que gravitam ao seu redor…
Questões de gênero, raça, credo, são o estopim para que o gatilho da intolerância seja acionado. Se alguém não está agindo de acordo com os parâmetros aceitáveis por aqueles que se sentem no comando, com certeza essa pessoa será hostilizada e, na maioria das vezes, agredida… sim, embora não faça sentido algum, os incomodados nesse caso não se mudam… simplesmente tentam aniquilar quem age contra aquilo que acreditam ser “a verdade”…
Aprendemos, desde pequenos, que o espaço em que habitamos é comum a todos. E que todos os seres vivos tem os mesmos direitos… e deveres. Mas não é assim que tudo funciona em nosso dia a dia…
Embora cada indivíduo tenha suas próprias ideias e tente seguir suas convicções, nem sempre tal intento é alcançado. Porque este não está dentro dos parâmetros exigidos pela Sociedade na qual está inserido. Estranho pensar assim, mas “a maioria sempre tem razão”, mesmo quando suas ações beiram o absurdo. Claro que aqueles que pertencem à “minoria”, mesmo quando essa suposta minoria seja maior em número que a “maioria”, costumam evitar quebrar as regras impostas para levarem sua vida em paz. Mas nem sempre a casta “dominante” permite que tal ocorra…
Não costumo ilustrar meus textos falando claramente sobre meus pontos de vista. Mas talvez, para que possa me fazer entender mais facilmente, eu deva quebrar essa minha regra de comportamento. Então, darei um exemplo do que estou tentando ilustrar, sempre lembrando que esse é meu ponto de vista, de forma alguma tem algo a ver com a realidade de outra pessoa, seja ela quem for…
Vivemos em uma Sociedade Heteronormativa. Homens se relacionam com mulheres. Ponto final. Vivemos em uma Sociedade dominada por pessoas de tez branca. Ponto final. Cada região tem sua crença em um determinado deus. Ponto final…
Na Sociedade Heteronormativa as regras são rigorosas e não se admite que estas sejam quebradas. Se essa está sob a égide do Patriarcado, o Patriarca de cada grupo detém o poder da Vida dos membros de seu grupo. De todos esses, quem mais sofre as consequências do poder patriarcal é, sem dúvida, a companheira do líder familiar. Porque este se sente dono de sua companheira. Bem, em verdade ela não é uma companheira. É uma posse… e por ser percebida como tal, não tem direito algum sobre a vida, além daquele que “seu dono” lhe permite…
Quando a cor da pele determina quem manda e quem obedece em determinada Sociedade, aqueles que não correspondem ao “esperado” pela casta dominante normalmente pagam um preço alto para existirem. E mesmo quando tentam se impor, são calados até por seus pares, que não desejam as consequência que tal enfrentamento acarretaria…
Intolerância religiosa… algo sem sentido, mas que afeta de forma negativa a Sociedade como um todo. Aqueles que pertencem a determinada linha de pensamento são induzidos a converter ou destruir todos os infiéis que encontrarem em sua jornada… porque seu deus assim o exige. Afinal, todos os outros deuses não passam de demônios disfarçados de anjos, que vieram para desencaminhar a humanidade. Como se essa precisasse de ajuda para se desencaminhar…
Enfim, no dia em que nos conscientizarmos que somos apenas um grão de areia no grande Universo no qual estamos inseridos, talvez consigamos conviver em paz… até esse dia chegar continuaremos a nos combater, acreditando piamente estar a serviço da verdade, pois foi esse o caminho que nos ensinaram a seguir quando iniciamos nossa caminhada…
Tania Miranda – Brasil – 06/12/2025

Trabalho como Agente de Organização Escolar (Secretaria de Educação do Estado de São Paulo) embora no momento esteja prestando serviço junto ao TRE, no Cartório Eleitoral como Auxiliar Requisitada. Gosto de escrever, tenho dois livros publicados, “Tirésias, a dualidade da alma humana”(autobiografia), pela Editora Verso e Prosa e “A volta do Justiceiro”, romance explorando o folclore brasileiro, publicado pela UICLAP. Publico crônicas diariamente em alguns grupos, meu perfil e meu blog… (taniamirandablog.blogspot .com)… sou casada, tenho quatro filhos e dois netos, sendo que minha neta mora comigo desde os três meses de idade…
