SÓ DAMOS VALOR ÀS COISAS QUANDO AS PERDEMOS…
A região onde passei minha infância, que me viu desabrochar para a adolescência e que acompanhou o crescimento de meus filhos sofreu muitas alterações no correr dos anos. E não foi para melhor, infelizmente. Quando eu tinha meus seis, sete anos, era comum ouvir o canto dos pássaros lá pelas cinco horas da manhã (as vezes, até mais cedo) anunciando o alvorecer de mais um dia. Toda a região era coberta por um manto verde, onde a vida simplesmente palpitava.
Sim, havia várias espécies de animais alguns a gente gostava, outros não. E por motivos óbvios não dá para ter simpatia por uma serpente venenosa, não é mesmo? E por aqui a oferta de ofídios era mais generosa do que gostaríamos coral verdadeira, cascavel, jararaca… só para citar algumas das espécies que habitavam a região. Graças a Deus nunca houve nenhum acidente com esses animais, até onde eu sei, mas eles andavam livremente por aqui de vez em quando um exemplar ou outro invadia as moradias e, ato contínuo, era exterminado pelos moradores…
Como eu disse, a região era toda arborizada. As pessoas cozinhavam com lenha nessa época. Todas as casa tinham seu fogãozinho… rudimentar, mas funcional. Era aquela vidinha simples de interior. No lugar de grandes avenidas, arruados onde as propriedades mais extensas eram cercadas com arame farpado. Os vaqueiros, volta e meia, tocavam o gado pelas cercanias… sim, aqui era uma região abençoada, não que não o seja nos dias de hoje mas era algo diferente.
Tem uma canção que eu ouvia muito quando era criança, chama-se “Mágoas de Boiadeiro”, onde a personagem da canção fala de sua saudade dos tempos passados e bem, de vez em quando essa sensação de nostalgia toma conta de mim… é quando relembro das festas de reizado, das festas juninas comemoradas à moda sudestina e quando ainda tínhamos nossas tradições vivas, nossas manifestações culturais… o tempo passou, tudo foi se modificando, o verde foi pouco a pouco desaparecendo, a fauna e a flora, tão ricas na época, simplesmente se evaporaram e tudo que nos restou foi a saudade de um tempo que se foi e não mais voltará…